Toque de Midas

Este post do Hugo é muito interessante, excelente para uma reflexão.

Na minha opinião, na teoria a ideia é boa, mas não passa daí, apenas uma teoria. A governação/política é feita por humanos e os humanos adoram contornar as regras e manipular as populações.

Desde dos seus  primórdios, o ser humano arranja sempre maneiras criativas para inflacionar a moeda.

Desde de ditaduras de esquerda ou direita, passando pelas monarquias e nas democracias, qualquer que seja o espectro político, nenhum quer perder o toque de Midas.

A situação ainda é mais complexa em democracias porque os políticos necessitam do voto popular. Os políticos beneficiam com a iliteracia das populações, estas têm muitas dificuldades em compreender o fenómeno da inflação e a sua origem.

A inflação é um imposto oculto. Basta voltar atrás, um par de anos, quando foi apresentado a Bazuca(PRR). A proposta da Bazuca era financiada através de dívida pública e sobretudo por inflação de moeda. Quase ninguém contestou a proposta, pelo contrário, os políticos e empresários rejubilaram e as pessoas sonhavam com empregos, o el dourado.

Agora estamos a pagar a factura da Bazuca, com alta inflação. Mas agora os políticos dizem que a culpa é da guerra, do Putin, do covid, dos empresários “gananciosos”, dos supermercados,  das gasolineiras, ou seja, a culpa é de todos menos dos políticos. O pior é que a maioria das pessoas acreditam nisso, porque não percebem o fenômeno da impressão de dinheiro.

Apesar de existirem inúmeras manifestações, as populações não criticam os governos devido à desastrosa política monetária, as populações apenas estão a exigir mais apoios sociais, ajudas para ultrapassar a inflação.

Enquanto as populações não compreenderem o problema, os políticos vão constantemente repetindo a fórmula, temos que ser honestos, ela resulta (a favor dos governos e cantillontários).

Voltando ao início da proposta da Bazuca, vamos imaginar num cenário, em vez de ser a impressão a financiar, seria um confisco de 15% de todas as contas bancárias em território da UE.

Tanto faz ser impressão ou confisco, as consequências são similares, para a economia, para as contas dos governos e para as populações. Em suma, são a mesma coisa apenas muda o nome do imposto.

Nenhum político iria propor um confisco, seria impensável de acontecer, iria gerar uma enorme revolta popular, muitas manifestações, essa proposta nunca iria em frente.

Se um confisco das poupança gera revolta, porque a expansão monetária não gera sentimento igual nas populações?

É apenas iliteracia financeira.

Se observamos, quem tem mais hipóteses de ganhar umas eleições em Portugal? O político mais rigoroso, com contas certas ou o político que está constantemente a inaugurar obras e com muitos apoios sociais?

É claro que um governo esbanjador ganha as eleições, mas para ele conseguir cumprir as “promessas eleitorais” necessita de muito dinheiro, como aumentar impostos é impopular, só lhe resta imprimir dinheiro.

É irônico, as populações não gostam das consequências da inflação, mas preferem políticos que inflacionam a moeda.

Como se costuma dizer, não há almoços grátis.

Euro

Eu sou um forte crítico da política monetária do BCE, mas temos que ser honestos, se não fosse o euro, hoje em dia, Portugal estaria bem pior. 

Desde que entrou em vigor o euro, já tivemos a crise do “pântano político”, da “fuga e incubadora”, dos “PEC”, do Subprime, dos bancos, da dívida soberana, do covid. As crises foram tantas, em pouco mais de 2 décadas, se fosse o escudo, ele teria sido desvalorizado múltiplas vezes.

Seríamos sem dúvida nenhuma, a Argentina da Europa.

Os pedidos de assistência ao FMI eram inevitáveis (mais que um), com as “ajudas” precificadas em dólares e ao mesmo tempo com “remédios”/exigências de desvalorização cambial como é o modus operandi desta instituição. A dívida soberana de Portugal subiria exponencialmente de um dia para o outro. O país estaria muito pior que hoje em dia.

O euro teve muita inflação, é verdade, mas é feita à velocidade que os alemães querem, se fosse à vontade dos políticos portugueses, seria à velocidade da luz.

Não podemos esquecer que ainda temos pelo menos 1 partido com representação parlamentar, que defende e fala abertamente que a desvalorização cambial, como uma solução para o país.

Bitcoinização

Eu já fui muito mais crente da ideia de um país exclusivamente com Bitcoin como moeda oficial, isto não significa que eu deixei de acreditar no Bitcoin, pelo contrário, a confiança é inabalável.

Só deixei de acreditar como legal tender(moeda única), o Bitcoin é para ser adotado pelo povo e não por governos.

Cheguei à conclusão que é impossível existir governos, sem a impressão de dinheiro. A expansão monetária é inerente ao estado. Não há um sem o outro. 

A hipótese de acontecer uma bitcoinização total é tão remota, se isso acontecer, será algo a tão longo prazo, não estarei vivo para o ver, prefiro pensar em cenários mais plausíveis.

Eu acredito que deve existir liberdade de escolha, as pessoas devem poder utilizar aquilo que acreditam que é melhor para si, a moeda deve ser uma escolha livre e não uma persuasão. 

A lei de Gresham fará o resto.

Apesar de eu ser um forte crítico às moedas fiduciárias, o tempo moderou o meu pensamento, deixei de ser um anti-FIAT, sou apenas pró-bitcoin. Não quero que as moedas FIAT morram, quero apenas ter a liberdade de utilizar o Bitcoin, sem restrições ou condicionalismos.

Eu não quero ter FIAT, mas as pessoas têm toda a liberdade de a querer, quem sou eu para impor uma moeda aos outros, cada um faça as suas escolhas, liberdade individual acima de tudo.

Eu imagino num futuro, onde os cidadãos têm apenas uma pequena parte do seu capital em FIAT, para os pagamentos diários. A parte significativa das suas poupança estará em btc.

Como tem pouco em moeda fiduciária, as consequências da impressão são menores, a impressão perde eficácia. Se os comércios e empresas adotarem o bitcoin como unidade de conta, menos eficaz será a desvalorização da moeda nos bolsos das populações.

Quanto menor a exposição à moeda FIAT, menor exposição à inflação. Cada cidadão terá a liberdade de escolher a percentagem de Bitcoin que se adequa ao seu perfil.

Legal tender

Caso um dia, o Bitcoin se torne Legal tender em Portugal, como moeda única. Conhecendo bem os portugueses e sobretudo a incompetência dos seus políticos, certamente não seria duradouro.

Quantos anos estaria em vigor?

Seguramente até a primeira crise ou eleição, teríamos um Corralito como os argentinos. Como os portugueses acreditam nas instituições estatais e somos adversos à responsabilidade individual, a maioria teria os seus btc em carteiras custodiais, o estado conseguiria açambarcar e converter os btc numa nova moeda FIAT.

O Legal tender tem esse inconveniente, as populações baixam as guardas, dão como algo seguro e garantido para sempre. Utilizam os serviços custodiais porque são mais fáceis e cómodos, até que um dia, os políticos passam a perna e ninguém conseguirá escapar. 

A bitcoinização total não acontece simplesmente com o ato da aprovação de um decreto, ela só acontece quando o último português que tem FIAT deixa de o aceitar para trocas.

Poderá também acontecer um cenário de uma moeda com backed em BTC, vai resultar na mesma merda, o correspondente número de sats por cada moeda, o estado vai diminuindo com o passar do tempo. Vai acontecer o mesmo que o dólar em relação ao ouro.

Não é por acaso que não existe nenhum país no mundo com moeda própria com supply fixo. Mesmo países como a Alemanha (antes do euro) ou a Suíça, que tem bastante disciplina orçamental e rigor fiscal, nunca tiveram uma moeda com supply fixo. Em Portugal é impossível ter essa disciplina, somos latinos, até vou mais além, nem o povo quer.

Um estado sem a possibilidade de inflacionar a moeda, é como colocar um ex-alcoólatra a trabalhar numa adega e dizer que ele não pode beber. Mais cedo ou mais tarde, ele vai cair na tentação. É inevitável, o inconsciente é mais forte…

O mundo só vai prosperar quando houver a separação entre a política monetária e o estado

Se isto um dia vai acontecer?

Talvez não, não sei, mas é esperança que alimenta o sonho. Mesmo sem a possibilidade de conseguir o objetivo final, alguém(nós) tem que começar a caminhada, para que os nossos filhos ou netos alcancem a meta.

O caminho só se faz caminhando. 

Voltando ao post do Hugo, um estado mais pequeno, a soberania e uma moeda forte seria muito bom para Portugal, mas só resultaria com as 3 premissas em simultâneo, mas isso apenas seria possível na teoria, porque na prática é impossível. Nenhum governo quer deixar de imprimir dinheiro diretamente ou indiretamente(BCE).

Em Portugal é impossível ter uma moeda oficial com supply fixo, sendo impossível, se tivermos que optar entre uma moeda FIAT local ou o euro, eu prefiro sem dúvida nenhuma o euro. A saída do euro será desastrosa para Portugal, voluntariamente nunca irá acontecer, mas podemos ser expulsos ou a moeda simplesmente colapsa.

Assim, das 3 premissas resta-nos apenas a redução do tamanho do estado, que é essencial. Um estado mais pequeno, mais eficaz e sem burocracias, e já agora que estamos a sonhar alto, sem corrupção.