Revolta Geracional

A entrevista de rua a uma senhora pensionista viralizou, o seu pensamento, reflete o que está acontecendo em Portugal. 

A senhora, apesar de considerar que a corrupção no governo é um problema, mas continua a preferir manter tudo como está. Ainda, realça, os  novos que façam a mudança. A senhora está-se a marimbar para o futuro do país, só lhe interessa a sua pensão, uma ganância atroz.

Mas como é que os jovens podem mudar o rumo do país, quando são a minoria. 

Devido ao enorme peso eleitoral dos pensionistas em Portugal, todos os partidos querem ter esta faixa etária do seu lado. 

61% dos eleitores têm os rendimentos diretamente dependentes do estado, por isso o governo aumentou o salário mínimo e as pensões. É quase uma compra de votos.

Não só o partido que está no governo o faz, como os partidos da oposição, na atual campanha eleitoral, prometem aumentar as pensões para o valor do salário mínimo.

O aumento de pensões, a Segurança Social, o Salário Mínimo são os assuntos predominantes das campanhas. Assuntos importantes para os jovens passam completamente ao lado dos partidos, é algo secundário. Perante a constituição somos todos iguais, mas perante uma eleição, existe primazia de uns, em detrimento de outros. 

Uma expressão muito usada é, “o futuro é dos jovens”, mas Portugal está num momento, em que o futuro, as eleições, não está na mão dos jovens, o futuro está dos mais velhos. Os mais velhos não são o problema, em si, o problema é o egoísmo, estão se a marimbar para o futuro do país, dos seus netos, só pensam no seu bem.

Portugal está numa situação muito crítica, talvez sem retorno, o partido político que conseguir a maioria do apoio dos pensionistas e funcionários públicos, inevitavelmente vai ganhar as eleições, assim vão fazer de tudo para ganhar esta parte da sociedade.

Eu reconheço que as pensões são baixas, mas não se pode privilegiar demasiado um grupo, em detrimento de outro, o problema de baixos vencimentos é generalizado. Ao privilegiar um grupo vai desbalancear a sociedade, perder o equilíbrio, está a polarizar a sociedade, está a colocar os jovens contra os mais velhos. Já se nota os primeiros sinais de revolta nos jovens.

O parear as pensões mínima ao salário mínimo, mesmo que seja faseado, terá um custo de 6 biliões por ano, de onde a Segurança Social(SS) vai buscar o dinheiro para esses custos? A única opção são mais impostos, o estado terá que capitalizar anualmente a SS. 

Se a carga fiscal já é extremamente elevada e ainda vamos criar mais impostos. Os trabalhadores do ativo, serão as principais vítimas. Mas como as pessoas entre os 40 e 65, geralmente, já têm a sua vida estabilizada, já têm habitação, têm família constituída, não estão disponíveis para emigrar, estão conformados.

A situação dos jovens é dramática, geralmente empregos mal pagos e precários, o custo da habitação está exorbitante, maioria não terá alcance. São as principais vítimas, o custo de vida está muito caro, aos jovens portugueses só lhe restam duas opções: conformar-se e viver para pagar impostos ou emigrar.

Portugal está a entrar numa espiral, para financiar as pensões, sobrecarrega a população ativa com impostos. Os impostos são tão altos, torna-se incomportável os jovens sobreviver, não conseguem ter uma vida decente, são obrigados a emigrar. Os jovens ao emigrar, sobrecarregam ainda mais os que ficam e os pensionistas ficam com maior percentagem de voto. Como a vida a piora, mais jovens vão emigrar, criando uma espiral perfeita.

Será que Portugal tem salvação desta espiral? Começo a ter muitas dúvidas.

Até que um dia pode surgir um movimento uma revolta ou então o inevitável colapso do ponzi, depois não haverá pensões para ninguém.

Revolta contra os Grisalhos

Os estudos mais recentes da UE, prevêem que a Taxa de Substituição em 2050 será de 40%. A Taxa de Substituição é a diferença entre o último salário e o valor da pensão. Por norma, estes estudos falham sempre por cima, já há 20 anos, existiam estudos com resultados semelhantes. O estado fez muitas reformas no sistema de pensões, aumentaram muito a idade de acesso, limitaram as pensões antecipadas, começaram a contribuir para a SS, corte de pensões através de impostos e outras medidas. 

Era lógico que esta reforma das regras melhorasse o percentual da taxa, mas não aconteceu, continua péssimo. O mesmo vai voltar a acontecer para 2050, a idade de reforma será para lá dos 73 anos e certamente serão criados novos impostos para capitalizar.

Se confirmar-se estes valores da taxa de substituição, quando for a idade de acesso à pensão, a generalidade dos portugueses será obrigado a continuar a trabalhar integralmente ou parcialmente. Receber apenas 40%, não será suficiente para as suas despesas. Possivelmente, só poderá acumular o salário com a pensão, quem tem vencimentos muito baixos perto do salário mínimo.

Agora vamos imaginar, como será em 2050, quem nasceu nos finais de 70 está a entrar na idade da reforma. Uma parte significativa da geração de 70 será obrigada a trabalhar, para fugir da miséria. 

Como vão pensar os filhos e os netos dessa geração?

Os filhos, na casa dos 40-50, observam a dificuldade que os pais estão a ter, trabalhar até morrer, muitos nem chegam a receber a sua pensão. Estes filhos sabem de antemão, que o destino deles ainda será pior e os netos ainda pior.

A população ativa sabe que não terão reformas, nem os 40%, a única certeza que tem, é que terão uma gigantesca carga fiscal para capitalizar a SS. A isto ainda temos que juntar uma enorme dívida soberana que terá que ser paga, uma pirâmide demográfica investida, declínio populacional, custos elevadíssimos devido a uma população envelhecida (saúde e lares).

Os jovens estão a sacrificar a sua vida, para pagar dívidas que não fizeram, feita pelos seus avós, muitas dessas coisas que foram construídas, nem já existem.

Tanto os filhos, como os netos, serão uns escravos de pagador de impostos e os seus direitos serão quase nulos.

Este cenário catastrófico até poderá acontecer antes de 2050.

Será que a solidariedade intergeracional sobrevive a este cenário?

Tenho muitas dúvidas.

Poderá aparecer um político populista que proponha o fim do sistema de pensões e dos seus pagamentos, a revolta dos jovens é tão grande, podem ver nesta proposta como a última uma esperança para um futuro melhor. Poderão estar tentados a seguir por este caminho.

Eu sempre acreditei muito na possibilidade desta revolta, mas começo a ter dúvidas, devido a um “pormenor”, era necessário os jovens em Portugal, se eles continuarem a sair, os pensionistas serão sempre a maioria.