Passou alguns dias, após as eleições legislativas, a cabeça está mais fria, é um bom momento para um rescaldo e para um pouco de futurologia. Esta análise vai ser limitada apenas aos grandes partidos.
Podemos resumir esta eleição, numa única palavra: Terramoto.
A AD ganhou, mas o grande destaque foi a queda do PS e a subida do Chega. Se a governação do país estava difícil, agora com este novo desenho da assembleia, será quase impossível, piorou bastante. Neste momento, ainda falta contabilizar os votos da emigração, mas o mais provável é o Chega ultrapassar o PS.

A queda do PS foi tremenda, ninguém esperava tal coisa, o partido está em estado de choque. O partido vai necessitar de tempo para estabilizar e para se reconstruir.
Devido a motivos constitucionais (6 meses antes e 6 meses depois da eleição do presidente da República) só poderá existir eleições no final do próximo ano, isso garante que o novo governo da AD vai estar no poder pelo menos um ano. Isso vai obrigar a aprovação do próximo orçamento de estado, como o PS necessita de tirar os holofotes sobre si, vai facilitar o governo. Provavelmente vai existir um acordo de cavalheiro, um pacto de não agressão entre o governo e o PS, o PS vai se abster na votação do orçamento de estado e a governo não fará mudanças na constituição sem o consentimento do PS e também não mudará leis ou políticas que sejam contra os princípios básicos do partido socialista. Em suma, não haverá grandes reformas, será um governo de gestão com ligeiramente mais poderes.
Não será um governo de bloco central, nem um governo da AD com apoio PS, será apenas um governo da AD com uma falsa oposição do PS. Um governo de bloco central, é uma bomba nuclear, ainda seria demasiado cedo para utilizá-la.
O Partido Socialista sabe que, para ter algumas hipóteses de vencer a próxima eleição, necessita de estar bem e o governo da AD tem que demonstrar algum desgaste, uma queda na popularidade. Eu não acredito que um ano seja suficiente, talvez, seja necessário 2 anos. Isto significa que o país poderá ficar estagnado 1 ou 2 anos, se o governo não conseguir fazer grandes reformas, se os cidadãos não virem/sentirem sinais de mudança, vai dar ainda mais força ao Chega.
Eu acredito que o ponto chave, é a imigração, o governo terá que demonstrar muito trabalho e minimizar o problema, para “esvaziar” um pouco o Chega, caso não faça será um problema.
Assim, nessa próxima eleição, talvez em 2027, acredito que as percentagens ficarão mais ou menos como esta eleição, com um partido ligeiramente à frente e os outros dois mais equilibrados. Só que o vencedor seria o Chega, ficando a AD(provavelmente o PSD) e o PS a disputa pelo 2º lugar.
Seria um novo terramoto, mas aqui seria necessário utilizar a bomba nuclear, iria surgir uma nova geringonça. Apesar da vitória do Ventura, iria surgir o governo bloco central, com o PSD e PS, não haveria outra alternativa.
O governo de bloco central, teria que ser muito competente, porque se não o for, iria criar um terramoto ainda maior. Se o governo for um fiasco, PS será esvaziado, cairá ainda mais, correrá um risco de existência, poderá tornar-se num partido insignificante na nossa política. E nessa futura eleição, o Chega venceria com maioria absoluta, aí sim, seria um verdadeiro terramoto, ao nível de 1755.
O Chega tem o tempo a seu fazer, tem uma forte penetração nos jovens. Cada jovem que faça 18 anos, existe uma forte possibilidade de ser eleitor do Chega, o seu oposto, acontece com o PCP e o PS, os mais velhos vão morrendo, não existe renovação geracional. Mas o ponto fulcral é a ausência de competência generalizada nos partidos e políticos que têm governado o nosso país nos últimos anos, o descontentamento da população é completo. Esses políticos vivem na sua bolha, não tem noção do mundo real, nem compreendem quais são os problemas das pessoas simples, do cidadão comum.
Na minha opinião só existirá três situações, que poderão travar as ascensão do André Ventura a primeiro-ministro:
- Ou existe um óptimo governo, que crie um bom crescimento na qualidade de vida das pessoas e que resolva os 3 problemas que mais anseiam actualmente os portugueses: Habitação, Saúde e Imigração. A probabilidade de isso acontecer é quase nula.
- Ou se o André Ventura desistir, a batalha será muito longa e ele poderá ficar cansado. Pouco provável.
- Ou então, um Argumentum ad hominem, terá que surgir algo, factos concretos que manche a imagem do André Ventura, que destrua por completo a sua reputação.
É a minha a linha leitura da bola de cristal, poderão dizer é uma visão pessimista, eu acho que é realista e pragmática, não vejo qualquer competência na classe política para resolver os problemas do país. Esta é a opinião de um recorrente crítico do Chega.